SUPLEMENTAÇÃO DE ÁCIDO GRAXO POLIINSATURADO OMEGA 3 E O CÂNCER

Rafaela dos Santos Oliveira

Especialista em Nutrição Oncológica pela SBNO / Campos dos Goytacazes – RJ

 

SUPLEMENTAÇÃO DE ÁCIDO GRAXO POLIINSATURADO OMEGA 3 E O CÂNCER

 

Considerada uma doença multicausal crônica o câncer é um grande problema de saúde pública mundial nos países desenvolvidos e em desenvolvimento. No ano de 2008, considerando somente as DCNT as neoplasias malignas foram responsáveis por 21% dos óbitos em todo o mundo, estima-se para 2025 um aumento de 50% na incidência desta doença em adultos e idosos1,2.

Nos últimos anos estudos tem considerado o potencial terapêutico dos ácidos graxos ômega 3 contra tumores sólidos e hematológicos estabelecidos3.  Os principais benefícios do ômega 3 descritos pela literatura é a diminuição da inflamação crônica e do desencadeamento de doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) dentre elas o câncer 4. Isso se deve ao fato de que os ácidos graxos poliinsaturados desempenham importantes funções na estrutura das membranas celulares e nos processos metabólicos, possuem efeitos sobre a resposta imune e inflamatória5.

As principais formas bioativas em humanos de ácidos graxos poliinsaturados ômega-3 (PUFAs) são o ácido eicosapentaenóico (EPA, C20: 5) e o ácido docosahexaenóico (DHA, C22: 6) 6. É encontrado em sua forma natural, em óleos de peixes de águas frias e profundas e em óleos de sementes de alguns vegetais7. A comercialização ocorre na forma de suplementos alimentares ou formulações de alimentos enriquecidos com ômega-3 8.

Evidências abundantes mostraram que também possui efeito significativo na inibição de vários tipos de tumores, porém os mecanismos não foram bem definidos9. Em pacientes com câncer apresentando anorexia e perda de peso esses ácidos também apresentam benefícios como a redução da degradação proteica induzida pelo fator de indução da proteólise, a prevenção do turnover proteico hepático, a inibição da IL-6 e a inibição do fator tumoral mobilizador de lipídio10.

Cerca de 40% a 80% dos pacientes com câncer apresentam perda de peso e desnutrição e essa perda acontece igualmente na massa muscular e lipídica11, e está relacionada com a localização, estadiamento do tumor e efeitos adversos ao tratamento antineoplásico12. Essa intensa e involuntária perda de peso é denominada caquexia e considerada uma síndrome multifatorial13.

As diretrizes da Sociedade Brasileira de Nutrição Enteral e Parenteral orienta que em pacientes com caquexia os ácidos graxos ômega-3 na dose de 2g/dia podem ser recomendados para estabilizar ou melhorar a apetite, a ingestão alimentar, massa magra e peso corporal2. Ainda não há consenso sobre dietoterapia adequada na caquexia, mas estudos recentes apontam resultados com o uso adjuvante de EPA e DHA, por suas propriedades anti-inflamatórias14.

No preparo cirúrgico vários estudos e meta-análises mostraram os benefícios da oferta via oral ou enteral de fórmulas contendo um conjunto de imunonutrientes (ácidos graxos ômega-3, arginina e nucleotídeos) no perioperatório para pacientes com câncer e desnutrição2. O objetivo é promover a imunidade, proporcionando nutrientes essenciais que realizam manutenção de linfócitos T e de outras defesas do hospedeiro e consequentemente reduz complicações e tempo de permanência hospitalar 15. Recomenda-se a utilização de fórmulas hiperproteicas com imunonurientes, por via oral ou enteral na quantidade mínima de 500ml/dia, iniciando 5 a 7 dias antes da cirurgia2. Para os pacientes com alto risco nutricional, essa fórmula deve ser continuada no pós-operatório de 5 a 7 dias10.

Os principais benefícios do uso de dietas imunomoduladoras em pacientes com câncer são  a redução da incidência de complicações infecciosas de pós operatórios, intensidade de resposta inflamatória, tempo de internação e custo do tratamento, proporcionando resultados significativos sobre a resposta imunológica, e influência positiva no perfil bioquímico, melhorando concentrações de pré albumina e proteína ligadora do retinol e transferrina16. No entanto, devido ao potencial risco associado ao uso de dietas suplementadas com arginina em pacientes com choque e sepse, o seu uso não é recomendado nesses pacientes 17.

Existem dúvidas em relação a subgrupos de pacientes que poderiam ser beneficiados ou não, com a suplementação, dosagem, tempo de iniciar e interromper a reposição e composição do lipídio ômega 3 (EPA/DHA)18.

São necessários estudos que  descrevam alguns mecanismos ainda desconhecidos, mas em contrapartida  o omega 3 apresenta baixa ou nenhuma toxicidade e intolerância tornando seu uso viável como terapia adjuvante.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

  1. Silva HP, Zamberlan C, Birk N, Ilha S. Fatores que influenciam na alteração do estado nutricional de pacientes oncológicos. Disciplinarum Scientia.2018;19(2): 267-279.
  2. Brazilian society of parenteral and enteral nutrition; Sociedade brasileira de oncologia clínica, Sociedade brasileira de cancerologia. Diretriz BRASPEN de terapia nutricional no paciente com câncer. Braspen Journal.2019; 34 suple1: 2-32.
  3. D’Eliseo D, Velotti F. Omega-3 Fatty acids and cancer cell cytotoxicity: implications for multi-targeted cancer therapy. Journal Of Clinical Medicine.2016 jan; 5(2): 5-15.
  4. Benjamim CJR, Alcantara GC, Novais PLC, Lopes JNS, Rocha EMB. O consumo de ômega 3 e 6 e a relação com doenças crônicas não transmissíveis. Rev e-ciência.2018;6(2): 114-120.
  5. Santos RLB, Pereira AS, Carvalho, IVR. Avaliação do estado nutricional e consumo alimentar de pacientes atendidos em centro especializado em doenças da coluna vertebral. Nutr clín diet hosp. 2017; 37(1):10-16.
  6. Costantini L, Molinari R, Merendino BFN. Impact of Omega-3 Fatty Acids on the Gut Microbiota. Int. J Mol Sci.Viterbo. 2017;18(12): 2645.
  7. Campos LCB, Rabelo DM. Ômega-3 e seus benefícios para a saúde. Revista Acadêmica Conecta FASF. 2019;4(1): 189-200.
  8. Martini CA, Almeida VV, Ruiz MR, et al. Ácidos graxos poliinsaturados ômega-3 e ômega-6: importância e ocorrência em alimentos. Rev Nutr. 2006 nov dez; 19(6):761-770.
  9. Huerta-Yépez S, Tirado-Rodriguez AB, Hankinson O. Role of diets rich in omega-3 and omega-6 in the development of cancer. Bol Med Hosp Infant. 2016;73(6):446-456.
  10. Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva. Consenso nacional de nutrição oncológica. Rio de Janeiro: Coordenação de Prevenção e Vigilância;2015.
  11. Marchiori MC, Genaro SC. Alterações nutricionais associadas ao tratamento quimioterápico em pacientes com câncer. Colloq Vitae. 2017; 9(1): 08-12.
  12. Oliveira LPM, Anunciação TA, Costa MLV. Estado Nutricional de Idosos Oncológicos por meio de Diferentes Métodos. Revista Brasileira de Cancerologia. 2018; 64(2): 209-215.
  13. Rocha LA, Cavagnari MAV, Melhem ARF, et al. Incidência de caquexia, anemia e sintomas de impacto nutricional em pacientes oncológicos. O Mundo da Saúde.2016;40(3):353-361.
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  15. Reis AM, Kabke GB, Fruchtenicht AVG, Barreiro TD, Moreira LF. Cost-effectiveness of perioperative inmunonutrition in gastrointestinal oncologic surgery: a systematic review. ABCD Arq Bras Cir Dig. 2016; 29 (2): 121-125.
  16. Gomes ALM, Magalhães JA, Neves JP, et al. Efeitos da suplementação de arginina, glutamina e ômega-3 sobre a resposta inflamatória e estado nutricional de pacientes oncológicos. Research Society and Development.2020 abr; 9 (5): 2-17.
  17. Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva. Consenso nacional de nutrição oncológica.Rio de Janeiro: Coordenação de Prevenção e Vigilância; 2011.
  18. Costa NDE, Romero A. Utilização de imunonutrientes em pacientes críticos sépticos: uma revisão de evidências científicas. Rev Educ Saúde. 2017; 5 (2): 112-120.
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