Cátia Cardoso de Araújo
Especialista em Nutrição Oncológica pela SBNO / Belo Horizonte – MG
NUTRIÇÃO NA PREVENÇÃO E NO TRATAMENTO DO CÂNCER DE MAMA
Cátia Cardoso de Araújo
Especialista em Nutrição Oncológica pela SBNO / Belo Horizonte – MG
Câncer é o nome geral dado a um conjunto de mais de 100 doenças que têm em comum o crescimento desordenado, disseminado e invasivo de células anormais, que tendem a invadir tecidos e órgãos vizinhos1,6. A nutrição tem papel importante tanto na prevenção quanto no tratamento do câncer1,6,9.
O aparecimento do câncer é multifatorial e inclui fatores de risco não modificáveis como idade, etnia ou raça, hereditariedade e sexo. E fatores de risco modificáveis como uso do tabaco, alimentação inadequada, inatividade física, obesidade, consumo de bebidas alcoólicas, agentes infecciosos, radiação ultravioleta (solar) e ionizante (raio x), exposição ocupacional, poluição ambiental e comportamento sexual1,2.
No câncer de mama, vários são os fatores relacionados ao risco aumentado, como: fatores reprodutivos (menarca precoce, nuliparidade, menopausa após 55 anos, idade da primeira gravidez acima de 30 anos), alcoolismo, sedentarismo, excesso de peso corporal, entre outros 1,3,4. O câncer de mama é o segundo caso de câncer mais comum entre as mulheres, com uma taxa de mortalidade de cerca de 15 para 100.000 mulheres 1,5.
Com o crescimento global da obesidade, um aumento no número de casos de câncer de mama relacionados ao excesso de peso pode ser observado concomitantemente 1,2,5,7,13. No Brasil, 3,8% dos casos de câncer diagnosticados em 2012 estavam relacionados ao alto índice de massa corporal (IMC), com uma maior incidência em mulheres (5,2%). Além disso, o câncer de mama estava mais relacionado ao excesso de peso7.
Evidências de classe mundial indicam que tanto o IMC elevado ao longo da vida quanto o ganho de peso durante a menopausa são fatores de risco para a desenvolvimento de câncer de mama pós-menopausa8. O excesso de peso tem sido associado não apenas ao desenvolvimento da doença, mas também com um pior prognóstico, maior mortalidade, recorrências, tumores maiores e complicações clínicas, como linfedema, neuropatias periféricas, cardiotoxicidade relacionada à quimioterapia, fadiga crônica e piora da qualidade de vida 1.
Uma pesquisa realizada com 180.885 mulheres no projeto Conjugado de Estudos Prospectivos da Dieta e do Câncer, descobriu que quanto mais peso as mulheres perdem após os cinquenta anos, menores são os riscos de câncer de mama. No estudo foi verificado que mulheres que perderam entre 2 a 4,5 kg tiveram um risco 13% menor do que mulheres com peso estável, enquanto que mulheres que perderam entre 4,5 a 9 kg tiveram um risco 16% menor e mulheres que perderam 9 kg ou mais tiveram um risco 26% menor6.
Em um estudo realizado em mulheres com diagnóstico estabelecido por exame histopatológico de câncer de mama (com média de idade de 52 anos, que teve pelo menos uma gravidez, que já estavam na menopausa e eram sedentárias, e que estavam em acompanhamento ambulatorial) foi analisado os aspectos sociodemográficos, ginecológicos, clínicos, antropométricos e estilo de vida com o intuito de identificar fatores associados ao peso corporal excessivo. Sendo que o estado nutricional foi avaliado pelo IMC, circunferência da cintura, circunferência do pescoço e relação cintura-quadril. O perfil antropométrico das mulheres indicou excesso de peso corporal e elevação do risco cardiovascular, o que sugeriu a necessidade de intervenção nutricional e acompanhamento após o diagnóstico 10.
Em um outro estudo desenvolvido no serviço de Mastologia do Hospital das Clínicas de Minas Gerais, foi avaliado a composição corporal e as características tumorais de 31 mulheres com câncer de mama. Foi observado excesso de peso corporal em 58% das pacientes e circunferência da cintura maior que 80 cm em 64,5%. O consumo excessivo de alimentos pertencentes aos grupos dos óleos e dos açúcares foi verificado em 90,3% e 83,8%, respectivamente11.
Os hábitos alimentares estão relacionados com 35% da incidência do câncer. Estando diretamente associado ao alto consumo de alimentos processados, ultraprocessados e hipercalóricos. Sendo que a venda desses produtos cresce 2% ao ano, representando cerca de 30% do consumo de alimentos dos brasileiros. Impactando diretamente na obesidade infantil e na vida adulta 9.
A Sociedade Brasileira de Mastologia lançou neste ano de 2020 o movimento de conscientização QUANTO ANTES MELHOR. O objetivo foi incentivar as mulheres para um estilo de vida mais saudável. Com prática de atividade física e uma boa alimentação. As dicas são:
- Alimente-se bem e não fique muito tempo sem comer, ou seja, prefira comer de três em três horas, em pequenas quantidades, sempre priorizando os alimentos naturais e evitando os alimentos industrializados.
- Evite o excesso de gorduras e carboidratos simples, como açúcar adicionado aos alimentos, doces, sucos de caixinha ou saquinho, refrigerantes, pão branco, macarrão, sempre preferindo as opções integrais.
- Procure ingerir proteínas de boa qualidade, principalmente frutas, legumes e verduras por serem fontes de vitaminas e minerais essenciais e ricas em fibras que ajudam na saciedade e no funcionamento adequado do intestino.
- Pratique exercícios físicos durante a semana. O ideal são 150 minutos de atividades físicas moderadas ou 75 minutos de atividades vigorosas divididas pelos dias da semana.
- Planeje o seu dia alimentar e tente segui-lo.
As mudanças na alimentação devem ser por toda vida. Sendo que, dietas muito restritivas, artificiais e rígidas não são sustentáveis. Um planejamento alimentar mais flexível, que objetive reeducação, geralmente obtém mais sucesso, devendo considerar, além da quantidade de calorias, as preferências alimentares do paciente, o aspecto financeiro, o estilo de vida e o requerimento energético para a manutenção da saúde12,14. Cabe ao nutricionista atuar nos cuidados à alimentação e nutrição voltados à promoção e proteção da saúde15.