Cristiane Feldman – Rio de Janeiro/RJ
Especialista em Nutrição Oncológica pela SBNO
Vem sendo demonstrado que o padrão de consumo alimentar e o estado nutricional influenciam fortemente o perfil de morbimortalidade das populações, estando associados ao desenvolvimento de doenças 1,2,3.
Existem milhares de sites que fornecem dietas populares e milagrosas que vem sendo divulgadas e utilizadas para tratamento de doenças e inclusive em oncologia, muitas delas restritivas como dieta cetogênica, Dunkan, Atkins, low carb, lacfree, glútenfree, paleolitica e até do jejum 4,5.
Esta influência vem determinando algumas condutas errôneas na terapia nutricional do paciente com câncer. Existem muitos fatores que devemos considerar para adequação do estado nutricional desses indivíduos. A ingestão diária de nutrientes deve atender as necessidades nutricionais individualizadas de acordo com a idade, sexo, atividade física e medidas antropométricas além de um plano alimentar baseado em recomendações regulamentadas, atendendo necessidades nutricionais 4,5,6,7.
Segundo Matias 2014, foi possível constatar que todas as dietas da moda ao serem analisadas apresentaram desequilíbrios em seus conteúdos nutricionais, seja com relação a macro ou micronutrientes e que seu uso pode trazer malefícios a saúde 17.
O câncer possui origem multicausal, sendo a interação entre fatores genéticos e ambientais uma das formas mais comuns no seu desenvolvimento. Os principais fatores relacionados ao processo de carcinogênese incluem: dieta, tabagismo, etilismo, obesidade, inatividade física, contato frequente com carcinógenos, radiação, idade, etnia e sexo 8,9.
Alguns fatores relacionados à presença do tumor proporcionam diversas alterações metabólicas, que induzem à síndrome da anorexia-caquexia 10,11. Em pacientes oncológicos, o gasto energético de repouso pode variar entre 60% e 150% a mais que os níveis de normalidade. Sendo assim, alterações na ingestão, no gasto energético e no metabolismo intensificam o comprometimento nutricional de pacientes com neoplasias malignas 11.
Em associação às alterações metabólicas mediadas pelo tumor, o estado nutricional dos pacientes com câncer pode estar comprometido por fatores como localização do tumor, perda de peso involuntária. Dependendo do tipo de tumor e da fase da doença, a perda de peso pode chegar a 30%, e, em mais de 80% dos pacientes, essa perda é grave, sendo, na maioria das vezes, o primeiro sinal de desnutrição em pacientes com câncer 12,13.
Durante tratamento antineoplásico, devido a toxicidade, muitos cursam com sintomas importantes como náuseas, vômito, mucosite, constipação, diarreia, alteração no paladar, xerostomia e alteração na absorção dos nutrientes, que levam a piora do estado geral, influenciando na tolerância de alimentos e na ingestão diária. Essas complicações estão associadas ao aumento da morbimortalidade 13,14.
As necessidades energéticas dos pacientes oncológicos vão depender do grau de desnutrição, do estresse metabólico, das perdas de energia e do nível de atividade física. A terapia nutricional em pacientes oncológicos é uma importante ferramenta para que o tratamento antineoplásico seja efetivo 14,15,16.
Por fim, Um paciente com câncer passa por diversas fases, do diagnóstico ao tratamento da neoplasia até sua cura ou sobrevida. A Nutrição de um paciente oncológico é um tratamento adjuvante que tem o objetivo de manter ou melhora o estado nutricional, fortalecendo e capacitando o paciente para que ele consiga realizar o tratamento que necessita e ter a chance de cura ou melhor prognóstico e qualidade de vida. Dietas restritivas são limitadas em macro e micronutrientes e contribuem para piora do estado geral desses indivíduos que precisam ser avaliados em sua amplitude. Devemos levar em consideração as alterações fisiológicas, emocionais e efeitos colaterais do tratamento, respeitando acima de tudo a sua individualidade metabólica. É de fundamental importância que a nutrição seja baseada em evidências aliada ao bom senso, ética e sobretudo a vivência clínica.
Nutricionista Cristiane Feldman
Especialista em Nutrição Oncológica pela SBNO
REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS