Erika Simone Coelho Carvalho – Belo Horizonte/MG
Especialista em Nutrição Oncológica pela SBNO
Nossas diretrizes nacionais e
internacionais para a condução do paciente oncológico não orientam a restrição
de glúten durante o tratamento, mas as pessoas vêm cada vez mais optando pela
retirada do glúten de sua alimentação em busca de um estilo de vida mais saudável.
1,2,3
Importante compreendermos que a
retirada do glúten alimentar é o tratamento exclusivo para pessoas com
diagnóstico de Doença Celíaca. O diagnóstico é realizado através de exames
sorológicos específicos e realização de biópsia da mucosa intestinal, com o
paciente ainda em consumo de glúten.4
Estudos demonstram que celíacos
com falta de adesão a uma dieta sem glúten têm maior chance de desenvolver
alguns tipos de câncer, como os linfomas e os do intestino delgado e do esôfago,
devido à agressão constante à mucosa intestinal. A adesão à restrição de glúten
em celíacos, além de fazer com que as vilosidades intestinais voltem ao normal,
parece diminuir o risco para cânceres de mama e de cólon.5,6,7
Nas últimas décadas, a
prevalência de doença celíaca tem aumentando em todo o mundo, na América Latina
a prevalência é de 0,64%, aumentando para 5,5% em indivíduos que possuem
parentes celíacos de primeiro grau.8
Como nutricionistas, podemos
contribuir para a prevenção de câncer em pacientes com doença celíaca,
orientando uma alimentação sem glúten e auxiliando no diagnóstico, pois estudos
demostram que 90% dos celíacos ainda não sabem da doença. Serão acometidos
indivíduos geneticamente predispostos, em qualquer fase da vida.9
A
dificuldade de diagnóstico se deve porque nem sempre a doença celíaca se
apresenta em sua forma clássica com diarreia, flatulência e perda de peso. O
Ministério da Saúde solicita atenção para os seguintes critérios, que devem
levar à condução do paciente para teste diagnóstico: presença em parentes de
primeiro grau, pessoas com anemia refratária à reposição de ferro oral, redução
da densidade mineral óssea, atraso puberal ou baixa estatura sem causa
aparente; doenças autoimunes (diabetes mellitus dependente de insulina,
tireoidite autoimune, deficiência seletiva de IgA, Síndrome de Sjögren,
colestase autoimune e miocardite autoimune); síndrome de Down; síndrome de
Turner; síndrome de Williams; infertilidade, história de aborto espontâneo e dermatite
herpetiforme.4
Durante o
tratamento oncológico devemos ficar atentos, pois a presença de diarreia
refratária, além do previsto durante o uso de medicamento específico, foi relatada
em um estudo de caso como resultado
adverso ao tratamento, com posterior diagnóstico de Doença Celíaca.10
Pessoas com
doença celíaca durante o tratamento oral contra o câncer devem ter nossa
atenção, pois a redução da motilidade gastrointestinal parece comprometer o
desempenho destes medicamentos.11
Cada vez
mais pessoas têm aderido a uma dieta sem glúten. Algumas relatam possuir
“sensibilidade ao glúten não celíaca”, porque apesar de apresentarem melhora de
sintomas gastrointestinais com a retirada do glúten, não possuem diagnóstico
para doença celíaca, com a biópsia apresentando uma mucosa intestinal normal,
não caracterizando a agressão pelo glúten.12
O mercado
cada vez mais apresenta alimentos processados e ultraprocessados sem glúten aos
nossos clientes. Uma alimentação sem glúten tem sido relacionada á deficiências
nutricionais e intoxicações.13,14
Uma dieta
sem glúten deve sempre ser orientada por um nutricionista para garantia de
alimentação saudável.15
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