Atuação da Equipe de Cuidados Paliativos na melhora da qualidade de vida dos pacientes oncológicos e a importância da intervenção nutricional precoce.

 

Lenise Faria Porcino

Especialista em Nutrição Oncológica pela SBNO / Campos dos Goytacazes – RJ

 

 

Atuação da Equipe de Cuidados Paliativos na melhora da qualidade de vida dos pacientes oncológicos e a importância da intervenção nutricional precoce

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), define-se “Cuidados Paliativos” como uma abordagem que promove qualidade de vida de pacientes e seus familiares diante de doenças que ameaçam a continuidade da vida, através da prevenção e alívio do sofrimento¹. Requer a identificação precoce, avaliação e tratamento impecável da dor e outros problemas de natureza física, psicossocial e espiritual. O termo palliare significa amparar, transmitindo a perspectiva de cuidar e não somente de curar ².

Os Cuidados Paliativos podem ser realizados em qualquer contexto e instituição, sendo composto por uma equipe interdisciplinar com médico, nutricionista, enfermeiro, psicólogo, assistente social, fonoaudiólogo, farmacêuticos entre outros profissionais. Deve oferecer uma assistência de qualidade, jamais esquecendo de respeitar a autonomia do paciente³.

Segundo dados do Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva (INCA) para o Brasil, a estimativa para cada ano do triênio 2020-2022 aponta que ocorrerão 625 mil casos novos de câncer4. Os Cuidados Paliativos na oncologia garantem uma assistência voltada para a humanização do cuidado diante da impossibilidade de cura5.

A atuação do Nutricionista nos serviços de Cuidados Paliativos tem sido considerada de grande importância, visto que as ações voltadas para a prática da assistência alimentar e nutricional, aos pacientes e seus familiares, contribuem com os cuidados e os trabalhos da equipe na melhoria dos serviços oferecidos.

Dessa forma, a intervenção nutricional precoce em Cuidados Paliativos nos pacientes oncológicos é extremamente importante, uma vez que a natureza metabólica da doença oncológica, a toxicidade e as alterações fisiológicas decorrentes dos tratamentos oncológicos e a evolução da própria doença provocam vários sintomas que causam grande impacto negativo no estado nutricional. Vários estudos mostram que o estado nutricional adequado se associa uma maior sobrevida, menor tempo de hospitalização e maior tolerância ao tratamento oncológico, contribuindo para uma melhor qualidade de vida e na capacidade funcional dos pacientes 6.

Cada paciente deve ser analisado pela equipe multiprofissional e discutidos os critérios para indicação da melhor terapia nutricional naquele momento, respeitando sempre a vontade do paciente, da família ou cuidador. Aspectos psicológico, religioso e socioeconômico também são importantes para definição de conduta, sendo reavaliada periodicamente e ajustada conforme o avanço da doença, condição clínica e expectativa de vida7.

A expectativa de vida é um dos componentes essenciais na tomada de decisão sobre a conduta a ser instituída. Avaliando as evidências literárias foi consensuado em expectativa de vida maior que 90 dias, expectativa de vida igual ou menor que 90 dias e cuidados ao fim da vida, fase cujo óbito é iminente e geralmente ocorre em até 72 horas7.

Sintomas gastrointestinais são frequentemente associados aos efeitos colaterais do tratamento rádio e/ou quimioterápico, bem como consequência da própria doença. As náuseas e os vômitos aparecem como principais queixas, ocorrendo entre 21,0% e 68,0% dos pacientes em cuidados paliativos e em até 80,0% naqueles em tratamento quimioterápico8. Alguns pacientes no primeiro atendimento já apresentam sintomas importantes como por exemplo, queixas de inapetência, redução do apetite, náuseas, vômitos, xerostomia e mucosite. Outro sintoma de grande impacto negativo na ingestão alimentar do indivíduo é a presença da dor. O uso dos medicamentos para o controle da dor inclui opióides e não opióides, o que pode agravar ainda mais esses sintomas e principalmente a constipação2.

O acompanhamento da evolução da doença é fundamental, tanto nos estágios iniciais (diagnóstico) como na manutenção e recuperação do estado nutricional e, sobretudo na terminalidade com ênfase na qualidade de vida e alívio dos sintomas8.

Na abordagem dos pacientes em cuidados paliativos, os profissionais devem basear suas decisões nas preferências e expectativas dos pacientes e familiares, mas também na avaliação criteriosa do prognóstico e da sobrevida. Uma avaliação adequada conduz à melhoria das estratégias de tratamento, subsidia o planejamento dos cuidados e a utilização eficiente dos recursos disponíveis, ajudando a minimizar os riscos de subtratamento ou de tratamentos excessivos e fúteis7.

Dessa forma, compreende-se a importância da atuação da equipe de Cuidados Paliativos e as intervenções nutricionais precoces em pacientes oncológicos a fim de amenizar e/ou controlar os sintomas contribuindo assim para uma melhor qualidade de vida.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

  1. Organização Mundial da Saúde. Câncer [homepage na internet]. First ever global atlas identifies unmet need for palliative care [acesso em 05 junho 2020]. Disponível em: http//www.who.int/câncer/em.
  2. Silva PB, Lopes M, Trindade LCT, Yamanouchi CN. Controle dos Sintomas e intervenção nutricional. Fatores que interferem na qualidade de vida de pacientes oncológicos em Cuidados Paliativos. Rev Dor.2010 out-dez;11(4):282-288.
  3. Silva DA, Santos EA, Oliveira JR, Mendes FS. Atuação do nutricionista na melhora da qualidade de vida de idosos com câncer em Cuidados Paliativos. Rev O mundo da saúde.2009 jul-set;33(3):358-364.
  4. Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva. Estimativa 2020: Incidência de Câncer no Brasil. Rio de Janeiro: Coordenação de Ensino;2019.
  5. Aragão BN, Costa CR, Silva ANZ, Pimenta IMOA, Martins, WC. Os Cuidados Paliativos no Câncer Infantil sob a Óptica da Equipe Multiprofissional: Revisão de Literatura. Revista Brasileira de Cancerologia. Rio de janeiro: 2019.
  6. Pinto IF, Campos CJG. Os nutricionistas e os Cuidados Paliativos. Acta Portuguesa de Nutrição.2016;7:40-43.
  7. Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva. Consenso nacional de nutrição oncológica. Rio de Janeiro: Coordenação de Prevenção e Vigilância;2015.
  8. Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva. Inquérito brasileiro de nutrição oncológica. Rio de Janeiro: Coordenação de Prevenção e Vigilância; 2013.
  9. Academia Nacional de Cuidados Paliativos. Manual de cuidados paliativos ANCP. São Paulo: SOLO; 2012.
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