Maria do Perpetuo Socorro de Sousa Coêlho – Teresina/PI
Especialista em Nutrição Oncológica pela SBNO
O câncer é uma das doenças que mais tem acometido a humanidade nestes últimos tempos. O aumento da população e o envelhecimento previstos para os próximos anos influenciam no aumento da incidência da doença e, consequentemente, da mortalidade causada por ela (BRAWLEY, 2017 apud LEONCIO; SILVA; IZEPPE, 2019).
Atualmente, a doença se confira como o principal problema de saúde pública e é considerada uma das quatro principais causas de morte prematura (antes dos 70 anos de idade) na maioria dos países (BRAY et al., 2018).
A carga global prevista para os próximos anos deve superar 27 milhões de novos casos até 2040, o que corresponde a um aumento de 50% sobre os 18,1 milhões estimados em 2018 (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2017). Para o Brasil, o Instituto Nacional do Câncer (INCA) estima que a cada ano do triênio 2020-2022 ocorrerão cerca de 625 mil casos novos (INSTITUTO NACIONAL DO CÂNCER, 2019).
Pesquisas mostram que o câncer é uma doença com múltiplos fatores e que 35% do percentual da mortalidade da doença estão relacionadas à alimentação inadequada, 30% ao tabagismo e 5% estariam correlacionados a fatores ambientais, como o alcoolismo, condições de trabalho, infecções e outras causas. A alimentação inadequada (com a inclusão de alimentos processados e ultraprocessados, por exemplo) tem relação com a carcinogênese, atuando nos estágios de iniciação, promoção e propagação dos tumores (GLANZ, 1997).
Por outro lado, sabe-se que a alimentação balanceada, composta pela ingestão regular de frutas, legumes, verduras, associadas a um estilo de vida saudável, pode reduzir os riscos de neoplasias malignas (SCHIMIDT, 2011 apud OLIVEIRA FILHO, 2018). Acredita-se que um terço de todos os canceres poderia ser prevenido , o que corresponderia a 3 a 4 milhões de novos casos. (WAITZBERG et al, 2004). Neste contexto, os estudos têm mostrado a quimioprevenção através dos compostos fitoquímicos. Esses podem interferir na prevenção do câncer de maneira direta ou indireta, uma vez que participa de várias etapas do metabolismo, atuando como antioxidantes ou na redução da proliferação de células cancerígenas. (GREENWALD; CLIFFORD; MILNER, 2001)
Os compostos bioativos (fitoquímicos) são substâncias presentes nas frutas, verduras e grãos que além das funções básicas são capazes de reduzir o risco várias doenças. (ZHANG et al., 2015).
Inúmeros são os compostos bioativos presentes nos alimentos e que atuam na quimioprevenção do câncer. Por exemplo, as catequinas (chá verde), as crucíferas (brócolis, couve, repolho), assim como o resveratrol (uvas), e a curcumina (açafrão), quando consumidos dentro de alimentação adequada, possuem ação anti-inflamatória e, podem agir nas cascatas inflamatórias, no crescimento tumoral, na angiogênese e apoptose (PERIN, 2013; SANTOS, 2013 apud LEONCIO; SILVA; IZEPPE, 2019).
Perin e Zanardo (2013 apud LEONCIO; SILVA; IZEPPE, 2019) salientam que nenhum composto ou componente alimentar atua de maneira isolada e possui função de proteção do câncer, portanto, devem ser consumidos com frequência e de forma sinérgica.
Para finalizar, é válido mencionar que o câncer é uma doença multifatorial e que os estudos cada vez mais têm estabelecido associações positivas da doença ao consumo de alimentos processados e ultraprocessados e associações negativas da doença com adoção de uma alimentação saudável e mudanças no estilo de vida.