O INCA e a SBNO publicam estudo multicêntrico demonstrando a prevalência de desnutrição na população Brasileira com câncer.
O câncer é uma enfermidade que se caracteriza pelo
crescimento desordenado de células que podem invadir tecidos e órgãos
adjacentes e/ou espalhar-se para outras regiões do corpo (BRASIL, 2013). Muitos
fatores influenciam o desenvolvimento do câncer, que podem ser externos, como o
meio ambiente, hábitos ou costumes próprios de um ambiente social e cultural,
ou internos, resultante de eventos que geram mutações sucessivas no material
genético das células, processo que pode ocorrer ao longo de décadas, em
múltiplos estágios (ARAB e STECK-SCOTT, 2004; ERSONe PETTY, 2006).
A Organização Mundial da Saúde (OMS, 2017) estima que, em
2030, tenhamos 27 milhões de novos casos de câncer e 75 milhões de pessoas
vivendo com a doença. Segundo o Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes
da Silva (INCA), a estimativa para o Brasil, biênio 2016-2017, aponta a
ocorrência de cerca de 600 mil casos novos de câncer. Excetuando-se o câncer de
pele não melanoma (aproximadamente 180 mil casos novos), ocorrerão cerca de 420
mil casos novos de câncer (INCA,2016).
O perfil epidemiológico observado assemelha-se ao da América
Latina e do Caribe, sem contar os casos de câncer de pele não melanoma, os
tipos mais frequentes em homens serão de próstata (28,6%), de pulmão (8,1%), de
colon (7,8%), de estômago (6,0%) e cavidade oral (5,2%). Nas mulheres, os
cânceres de mama (28,1%), de colon (8,6%), colo do útero (7,9%), pulmão (5,3%)
e estômago (3,7%) figurarão entre os principais (INCA, 2016).
O Inquérito Brasileiro de Nutrição Oncológica (IBNO) foi
idealizado em 2009 (INCA, 2013) após o lançamento do Consenso Nacional de
Nutrição Oncológica. O documento de Consenso foi organizado em 2004 pelo
Serviço de Nutrição e Dietética do INCA e
revisado a cada 5 anos, tendo sua última atualização em 2015 (INCA, 2015), com o
objetivo de uniformizar a terapia e a assistência nutricional aos pacientes
oncológicos, garantindo equidade e qualidade na assistência a indivíduos com
câncer no Brasil.
As instituições envolvidas na construção deste documento se
comprometeram a implementar, em suas práticas diárias do serviço de nutrição,
as diretrizes nutricionais consensuadas, que incluem terapia nutricional e
avaliação nutricional do paciente internado.
O documento propõe a utilização de ferramentas para triagem
do risco nutricional em pacientes com câncer e, destaca a Avaliação Subjetiva
Global Produzida pelo Próprio Paciente (ASG-PPP) (INCA, 2015), com o propósito de
identificar, já na admissão, indivíduos em risco de desnutrição ou que já estão
desnutridos e que são candidatos à terapia nutricional. Estedocumento orienta ainda
que aqueles pacientes identificados como desnutridos ou em risco nutricional,
deverão ser submetidos a uma avaliação nutricional completa, composta por dados
clínicos e dietéticos (INCA, 2015).
A realização deste estudo também objetivou a construção do
Inquérito Brasileiro de Nutrição Oncologicado Ministério da Saúde/INCA
(INCA,2013), onde foram descritos a prevalência de desnutrição conforme a
localização da doença, Estados e Região, além da prevalência de sinais e
sintomas de impacto nutricional desta população. Permitindo assim este
documento subsidiar a construção de políticas públicas em nutrição oncológica,
além de contribuir para a melhoria da qualidade da assistência a saúde prestada
aos pacientes oncológicos, visto que com o emprego da ferramenta de avaliação nestes
pacientes foram oportunizados o diagnóstico mais precoce do seu estado
nutricional, e intervenção mais oportuna, possibilitando a correção do déficit
nutricional ou da presença de risco de desnutrição.
Espera-se que com a adoção desta estratégia de abordagem
nutricional precoce, no momento da internação destes pacientes, sistematizando
a triagem nutricional por meio da aplicação da ASG-PPP, possa contribuir, em
nosso país, de dimensões continentais, para a equidade e qualidade da assistência
nutricional ao paciente oncológico.